Repugnância, a emoção esquecida com uma interessante história evolutiva5 min de leitura

Figura 1. Repugnância corporativa.

Levando para o cotidiano de todas as famílias, normalmente sentimos repugnância quando vamos comer algo de que não gostamos, mas às vezes também a sentimos por uma ideia ou modo de vida. Será que um condicionamento cultural também pode ser repugnante?

Pouco se fala sobre o nojo ou repugnância, mas esta é uma das emoções básicas. Quando vamos comer alguma coisa e percebemos um odor desagradável, automaticamente soltamos a comida. Quando a cozinha está com um cheiro ruim, sabemos que algo está apodrecendo e devemos nos livrar daquilo porque pode prejudicar nossa saúde. Mas, o que é realmente a repugnância?

Você se lembra da última vez em que sentiu repugnância? Como se sentiu? Foi com alguma comida? Você já tentou provar novamente? Você seria capaz de comer um inseto?

Você acha que sentir repugnância por uma coisa ou outra pode ser uma experiência cultural?

Desde que somos pequenos, a repugnância está presente em nossas vidas independentemente de sua intensidade.

Por esta razão, é importante saber o que está oculto por trás dessa emoção, já que às vezes há algo mais do que o puramente tóxico, como a nossa maneira de perceber o mundo.

Quando sentimos repugnância?

Nos sentimos enojados quando comemos algo tóxico ou estamos perto disso. É uma reação adaptativa que nos impede de viver situações desagradáveis ​​e prejudiciais à saúde. Agora, essa emoção também pode surgir diante de uma ideia que nos provoca repulsa. Portanto, no fundo desta emoção está a intenção de evitar o risco de ser contaminado.

Por exemplo, quando abrimos a geladeira dispostos a comer uma boa fatia de melancia e descobrimos que ela está meio podre, não consideramos a possibilidade de comê-la, apenas a jogamos fora. Seu estado ruim nos informou que pode prejudicar nossa saúde e nos colocar em perigo. Ou talvez, ao querer beber leite com café e abrir o recipiente, percebemos um cheiro azedo muito forte. Então jogamos o leite pelo ralo.

A má aparência e o cheiro de muitos alimentos nos dizem que é melhor descartá-los do que comê-los, pois eles podem colocar em risco a nossa saúde. Desta forma, podemos considerar a repugnância como uma emoção adaptativa que nos impede de viver este tipo de situações intoxicantes.

Como curiosidade, podemos dizer que a repugnância está relacionada ao córtex insular segundo diferentes estudos. De fato, lesões nessa estrutura impedem tanto a experimentação dessa emoção quanto seu reconhecimento nos outros.

Figura 2. Expressão natural de repugnância.

A repugnância é cultural?

A experiência de repugnância pode variar entre as culturas. Apesar de ser uma emoção que nos ajuda a evitar o perigo para o organismo, é verdade que, dependendo da cultura, há alimentos que, apesar de não serem tóxicos, podem provocar mais ou menos nojo.

No entanto, é importante notar que essa emoção tem uma expressão facial característica que pode ser observada até mesmo em pessoas cegas de nascença, além de ter uma resposta fisiológica, psicológica e comportamental típica.

Você comeria um prato de grilos ou um prato de gafanhotos? Em alguns países os insetos podem ser verdadeiras iguarias, enquanto em outros eles despertam a mais profunda aversão.

Mesmo dentro de um país, uma receita pode ser um prazer para muitos e um horror para os outros. Os caracóis são um exemplo claro disso. Não me baseio em nenhum estudo científico, mas tenho notado que existem pessoas que os amam e pessoas que não podem vê-los. Portanto, essa emoção também está implícita na personalidade e na educação que cada indivíduo recebe.

Sim, é verdade que há questões mais básicas que geralmente causam a repugnância para a maioria de nós, como um aspecto ruim ou um cheiro nauseante, mas é importante levar em conta a influência da cultura. Dependendo desta, podemos sentir mais ou menos rejeição.

Repugnância ideológica

Sem dúvida, sentir repugnância nos ajuda a manter nosso organismo longe da toxicidade, mas essa emoção vai além do puramente alimentar e segue para o campo ideológico. Muitas pessoas expressam a repugnância que sentem em relação a outra cultura, comportamento, valores, raça, religião, países…

É nessas ideias, ou seja, no fundo dessa emoção, que também se esconde o pensamento de toxicidade.

O medo surge de uma ameaça corporal, enquanto a repugnância aparece diante de um perigo espiritual”.

-Paul Rozin-

Algumas pessoas percebem outras ideologias como tóxicas para si mesmas. Pensam que, de alguma forma, podem prejudicar suas crenças e valores ou sua vida em geral. Deste tipo de repugnância derivam, por exemplo, o racismo e a xenofobia. Quando consideramos outras raças e outras pessoas como tóxicas, tendemos a rejeitá-las e evitá-las.

Figura 3. Repugnância ideológica.

De acordo com os resultados das pesquisas realizadas por Paul Rozin, um psicólogo dedicado ao estudo dessa emoção, “a repugnância elaborada é uma reação de rejeição a eventos que nos fazem lembrar nossa natureza animal“.

Rozin e seus colegas observam que, apesar de a repugnância ser um mecanismo de defesa que nos levou a evitar contaminantes animais no início, tem sido gradualmente desvinculada destes elementos orgânicos e podemos nos sentir enojados por alguém que viola as regras morais.

Como vemos, essa emoção tem uma interessante história evolutiva.

Além disso, de acordo com esses autores, o fato de sentir repugnância por aqueles que são racistas, abusadores, ou qualquer um cujo comportamento é considerado negativo, pode significar que estamos assumindo o papel de protetores da dignidade humana dentro da ordem social.

Fonte: https://amenteemaravilhosa.com.br/repugnancia-emocao-esquecida/


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